quarta-feira, 19 de novembro de 2014
Como o miojo é feito
Como é que se faz na fábrica para o miojo ficar todo enroladinho e dobrado? O que mais pode me interessar além disso? Por que estão condenando o meu amiguinho? Mais uma blogueira para falar de saúde?
Calma, sem crise! Eu respondo tudo aqui, tim tim por tim tim!
Bem… Não sei você, mas eu já comi muito miojo nesta vida. Acho que toda a minha geração, da década de 80 (os anos em que a indústria da moda mais sacaneou as pessoas), toda ela teve uma infância e adolescência bastante farta de macarrões instantâneos.
Não posso condenar meus pais por terem permitido, porque eles não sabiam o que estavam fazendo. As pessoas começaram a falar mais popularmente sobre saúde alimentar nos últimos anos (no Brasil), antes só discutiam sobre prós e contras de alimentos polêmicos há mais tempo, como o ovo, café, vinho e outros. Não criticavam o uso de aditivos químicos nos produtos industrializados (corantes, conservantes, acidulantes, espessantes, estabilizantes…) e quase nem se ouvia falar em “sódio“.
É claro que nesse tempo muitas pessoas já estavam “ligadas” em todas essas coisas, mas a grande massa da população ainda não. Nem sei se em 2014 “a grande massa” já se conscientizou, mas o fato é que a Internet invadiu os lares de lá para cá e a quantidade de informação que chega até nós por causa dela é incrivelmente maior. Isso muda muita coisa – quem viveu, viu!
Quando eu já tinha mais de vinte anos, fiquei sabendo que o miojo, meu fiel companheiro, era uma bomba calórica, riquíssimo em gordura e carregava mais sódio do que eu deveria comer em um dia inteiro. Isso foi como um golpe, porque eu comi o tal “lámen” durante toda a vida e não pensava em passar o resto dela sem ele.
Para você que gosta dos meus causos, aqui vão três parágrafos de lembranças com o miojo, que estão pulando aqui na minha mente neste momento… (Para os demais, siga direto para o 4º parágrafo abaixo!)
Depois da separação dos meus pais (eu tinha 5 anos), a cada duas semanas eu ia para a casa do meu pai para passarmos o final de semana juntos. Lembro como se fosse hoje que ele chegou a comprar caixas fechadas de miojo, de tanto que ele era consumido e quase essencial por nós dois. Fora isso, quando meu pai precisava ir para o fogão, fazia sopas instantâneas, ovo quente, ovo frito e… Acho que só! (Eu adorava tudo o que ele fazia para eu comer, fique claro!) Ah, lá também rolava muita azeitona e outros “tira-gostos adultos”, que eu me fartava enquanto ele tomava uma cerveja distraído, rs! Me lembro que “vomitei as tripas” na noite da abertura das Olimpíadas de 92 e foi porque matei a fome com o salame que ele estava petiscando (acho que ele não percebeu). Os queijos que o meu pai comia, eca, eu preferia nem chegar perto. Eu achava que eles eram muito fedidos e feios, mas começava ali a minha relação com os queijos azuis (hoje eu adoro). Comíamos bastante na rua e ele costumava me levar para tomar café da manhã na padaria – coisa que eu adoro fazer até hoje. Parando para pensar, naquele tempo não vendiam esse monte de comida congelada que conhecemos hoje, devia ser muito mais difícil matar a fome com um prato de comida sem saber cozinhar. E assim foi, até que ele começou a namorar a minha madrasta, que estava aprendendo a cozinhar e é quando se inicia uma outra parte da história: muita saudade do miojo.
Minha mãe também não se importava nem um pouco em me dar macarrão instantâneo. Ela sabia cozinhar (e muito bem) mas, quando o tempo ficava apertado e ela não conseguia fazer o almoço a tempo, sentávamos juntas na mesa para comer, adivinha o quê? Miojo. E, obviamente, eu adorava esses dias. Como eu disse há 7 anos no post “Miojo Cebola e Óleo“, eu nunca me cansei dele – e nem medi as palavras para expressar o quanto eu ainda comia o ainda querido “lámen”. É verdade que eu já sabia que não era um alimento saudável, mas preferia não me aprofundar no assunto.
Entre as “amigas da rua” (as “zamigas”, vizinhas), ele era parte da brincadeira. A gente fazia miojo com leite e deixava ficar bem empapado, pra ficar mais divertido. Quem conseguisse encher mais a boca com a massaroca, ganhava. Obviamente tinha que mastigar e engolir. Comer dessa maneira era como devorar um monte de argamassa. (Adiantando a resposta para quem for comentar dizendo que brincar com comida é pecado: a gente comia tudo.)
Bem, a ficha caiu e eu encarei a realidade. Não é só porque com a idade eu comecei a perceber no próprio corpo o efeito das calorias, mas também porque passei a me preocupar mais com a saúde.
Tenho reparado que muitas receitas que levam macarrão instantâneo andam rodando por aí, há algum tempo. Vi desde lasanha com miojo até hambúrguer com o macarrão no lugar do pão. Minha pergunta é: “Por que isso, minha gente?”. O fato de adicionar miojo no lugar da massa da lasanha, por exemplo, não faz com que o preparo seja mais rápido, fácil ou sequer saudável. Eu realmente não consigo entender, acho que só pode ser porque estamos com uma gulodice sem limites.
Dá uma olhadinha aqui nesta página do site do Mais Você e veja a variedade de receitas com miojo que já apareceram no programa. Também tem uma página especial para “receitas instantâneas”, que fala do miojo como se fosse um “ingrediente mágico” (nessas palavras) e intitula: “1,2,3… está pronto!”.
Em uma delas (Bolinho Instantâneo), é dito que, “se faltar farinha em casa e você quiser fazer um bolinho, se tiver macarrão instantâneo, faça!”. Quer dizer, é sugerido que você substitua a farinha por macarrão instantâneo na falta daquele ingrediente. Olha, eu questiono muito essa dica. A farinha não é substituível por uma massa preparada (com farinha e outros ingredientes), recém cozida e frita.
É, era aqui que eu queria chegar (cheguei).
Meus leitores são, em grande maioria, pessoas que estão aprendendo a cozinhar e, portanto, potencialmente comedores de comidas instantâneas. Por isso, preciso falar sobre como o macarrão instantâneo é feito (que é o mais popular). Não quero que ninguém deixe de comer miojo, mas que saiba o que está ingerindo. O correto é fazermos escolhas sabendo o que estamos escolhendo. Os fabricantes listam os ingredientes nas embalagens e informam a tabela nutricional mas, a menos que alguém faça um alerta, quase ninguém interpreta os números.
Como o Miojo é Feito
O processo na linha de produção para a fabricação do macarrão instantâneo lámen é assim:
Os ingredientes são misturados e formam a massa do macarrão, que é expelida para a esteira por um monte de biquinhos finos, formando longos fios, digamos, “cacheados” (aposto que você já se pegou tentando entender como o miojo era feito assim, cacheadinho). Isso também pode ser feito cortando a massa em fios bem finos, que se arranjam na esteira de maneira que também ficam enroladinhos. Em seguida, a massa passa for um longo forno, onde é cozida a vapor e segue resfriando na esteira, até ser cortada na porção de uma embalagem e então dobrada sobre si mesma.
A massa dobrada, que já foi cozida e resfriada, é então acomodada em moldes que são cheios de furinhos (como uma escumadeira) para que o óleo escorra. Dentro desses moldes, a massa é imersa no óleo quente por algum tempo e então conduzida para fora da fritadeira, para ser resfriada novamente. A partir daí, a massa já está pronta e é conferida por fiscais e detectores automáticos (que eliminam aquelas que não estão dentro do padrão de qualidade), recebe seu respectivo pacotinho de tempero e é embalada, encaixotada e distribuída.
Neste vídeo, você pode ver uma linha de produção de macarrão instantâneo, etapa por etapa – com uma musiquinha que tem tudo a ver (só que não):
A fritura da massa pré-cozida faz com que ela desidrate, fique seca, durinha e que mantenha seu formato depois de embalada. Com certeza também adiciona um sabor que dá um “tcham” para qualquer coisa. (Quem não percebeu ainda que a fritura dá um sabor agradável para a comida?) Especialmente por causa dessa etapa da produção, em torno de 20% do que vai para o seu prato (fora a água) é gordura.
Pode ter uma pequena quantidade de óleo nas misturas do tempero, mas você não tem como saber quanto é, porque os fabricantes não citam separadamente os ingredientes e informações nutricionais do tempero. Eles consideram uma porção única de 80 g de macarrão + 5 g de tempero (por exemplo).
Por esse mesmo motivo, não conseguimos saber de que maneira a versão “light” do miojo tem menos gordura. A fritura da massa pode ser substituída por uma secagem por ar, mas não é possível saber se é esse o processo de desidratação usado porque os fabricantes não informam na embalagem (até porque eles nunca disseram que ela é frita). Se pudéssemos ver os ingredientes só da massa, poderíamos saber se ela foi frita ou não (pela quantidade de gordura), mas, sem as informações separadas, ficamos só com as deduções.
Ainda sobre o tempero, ele esconde uma enorme quantidade de sódio e realçador de sabor, que podem trazer riscos à saúde se consumidos em excesso. A quantidade de sódio presente no saquinho é, quase sempre, próxima ao máximo recomendado pela Anvisa para o consumo durante todo o dia e algumas vezes superior a ele (valor de referência para consumo diário: 2.400 mg). Leia a tabela nutricional e faça as contas para ver quanto de sódio você ainda pode consumir no mesmo dia – depois me diga se conseguiu não ultrapassar.
Como eu disse lá em cima, saber como os produtos que consumimos são feitos e seus ingredientes é importante para fazermos nossas escolhas. Não quero dizer que “miojo é uma má escolha, nunca coma!”, mas que você tem que saber que é um alimento rico em gordura e sódio, com quase nenhum valor nutritivo. Não é saudável o consumo frequente, mas você pode comer de vez em quando, com moderação.
Aqui em casa eu substituí o miojo por macarrão cabelinho de anjo. Ele fica pronto muito mais depressa (em menos de 1 minuto!), é mais saudável e muito mais gostoso!
Tudo na vida tem que ser equilibrado, especialmente a nossa alimentação. Não vamos ser radicais e deixar de comer para sempre as coisas que nos dão prazer mas que não são saudáveis, porque também é saudável satisfazer nossos desejos “de quando em vez”.
A única coisa que afirmo aqui, agora, debaixo dos seus olhos é que essas receitas bizarras com miojo, neste blog, “NUNCA SERÃO”!
Marcadores:
História e Curiosidades da Culinária
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